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Mostrando postagens de 2012

Uma Cruzada pelos mares

Em entrevista à RHBN, o pesquisador inglês Niguel Cliff fala sobre os significados da expedição de Vasco da Gama e associa os Descobrimentos à oposição entre Islã e cristianismo Alexandre Leitão 1/9/2012 As motivações e os significados da expedição de Vasco da Gama para as Índias são debatidos até hoje. Nesta breve entrevista, o pesquisador e crítico inglês Nigel Cliff, que lança no Brasil a tradução de seu livro Guerra Santa (Globo), associa os Descobrimentos à oposição entre Islã e cristianismo, e afirma que a viagem liderada pelo então obscuro português foi mais impactante que a de Colombo RH Por que é importante estudar Vasco da Gama? NC A história de Vasco da Gama é capaz de nos ensinar muito sobre nós mesmos e sobre nosso mundo. Uma busca levada a cabo por quase um século, e a um custo humano elevado, é colocada nas mãos de um jovem e sua tripulação estranhamente sortida. Eles navegam por 24.000 milhas rumo ao desconhecido, desafiados por tempestades, doenças e cu

Órfão na Colônia

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Considerado legítimo durante séculos, o abandono de crianças era feito por meio das “rodas” das Santas Casas da Misericórdia 26/10/2010 A Bíblia conta a vida de Moisés, abandonado pelos pais e criado pela filha de um faraó; a cidade de Roma teria sido fundada por Rômulo e Remo, duas crianças desamparadas alimentadas pelo leite de uma loba e recolhidas por um casal de pastores. Essas biografias podem parecer lendas, mas estão ligadas a práticas que já foram bastante comuns. Muitas vezes acreditou-se que o abandono dos filhos pelos próprios pais fosse legítimo, assim como deixá-los à mercê de pessoas dispostas a criá-los. Fossem pobres ou ricos, brancos ou mestiços, filhos de mães solteiras ou de relações espúrias, muitos eram largados no mundo da mesma forma. O acolhimento de crianças enjeitadas começou no Ocidente medieval, em estabelecimentos que utilizavam uma “roda” – uma espécie de portinhola giratória onde o bebê era deixado, para ficar sob os cuidados de uma instituiçã

Tratado de Methuen

No século XVIII, a descoberta de ouro em terras brasileiras apareceu como uma alternativa econômica que poderia salvar os combalidos cofres da Coroa Portuguesa. Os gastos realizados com o processo de restauração da monarquia nacional (que marcou o fim da União Ibérica), a perda de posses coloniais espalhadas pela Ásia e as oscilações do preço do açúcar no mercado europeu compunham uma série de problemas enfrentados pelo Estado lusitano naquela época. Contudo, a extração de toneladas e mais toneladas de ouro do território brasileiro não conseguiu viabilizar uma acumulação de capitais que pudesse novamente organizar a economia metropolitana. Na verdade, boa parte dos metais e pedras preciosas extraídas do Brasil serviu para saldar uma exorbitante quantidade de dívidas que o governo português contraiu com as grandes potências econômicas europeias, principalmente a Inglaterra. De fato, a dependência econômica de Portugal em relação aos ingleses marca um período histórico da economia euro

No princípio era Portugal

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Como pequeno feudo, rebelado contra castelhanos e mouros, guerreou dois séculos e abriu caminho para sistema-mundo que perdura até hoje Por José Luis Fiori O sistema mundial em que vivemos – interestatal e capitalista – surgiu na Europa, e só na Europa, entre 1150 e 1450, de um longo conflito sistêmico entre “feudos” e “centros imperiais” de poder, que conseguiram transformar suas “economias naturais” em economias capitalistas mais poderosas do que a dos seus rivais. Neste período, a Península Ibérica cumpriu um papel decisivo, na formação do próprio sistema e no início da sua expansão para fora da Europa. Os reinos de Castela, Leon e Aragão, transformaram-se no núcleo político do Império Habsburgo, que dominou a Europa, durante o século XVI, sob a batuta de Carlos V e Felipe II. Mas antes dos espanhóis, foi o reino de Portugal que se estruturou primeiro, como estado nacional, e foi ele também que liderou o primeiro século da expansão mundial da Europa, depois da sua conquista de

Injustiça para quem?

Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, nova lei de cotas evidencia a debilidade do ensino público básico no Brasil, mas representa um grande passo para a luta contra o preconceito racial no país Alice Melo (24/8/2012) Aprovada pelo Senado no início deste mês e sancionada pela presidente Dilma Rousseff na tarde de quarta (19), nova lei de cotas (PLC 180/2008) passa a valer a partir de 2013. A medida que obriga todas as universidades e institutos tecnológicos federais a destinarem 50% de suas vagas a estudantes de escolas públicas e, dentro disso, 25% a candidatos pretos, pardos e índios; evidencia a debilidade do ensino básico no Brasil, mas representa um grande passo para a luta contra o preconceito racial no país. O texto começou a tramitar no Congresso no final dos anos 1990 e surgiu com intuito de reformular o sistema de ingresso universal, o vestibular. Mas o projeto foi sendo modificado com o tempo: na alvorada dos anos 2000, quando o Estado começou a implementar po

Uma leve bagagem cultural

D. Pedro I não era exatamente brilhante, mas estava longe do estereótipo de ignorante, degenerado e doente que lhe coube D. Pedro compartilhava com outros membros da casa de Bragança o amor pela música. 'Os primeiros sons do Hino da Independência', óleo de Augusto Bracet, documenta essa paixão Eneida e música. A paixão pelo clássico de Virgílio e a verdadeira adoração pela composição e pelo som dos instrumentos são os itens mais vistosos de um imaginário perfil cultural de D. Pedro I. Mas o imperador, diga-se de passagem, nunca foi lembrado pela educação esmerada e, muito menos, por qualquer relação com as artes. Ao contrário: a memória coletiva acentua a profusão de amantes [Ver RHBN nº 64], a ignorância e os ataques epiléticos. Mas não é bem assim. O único traço de afinidade com o mundo artístico que começa a ser conhecido é o que ele compartilha com outros membros da casa de Bragança: o amor pela música. A educação do primeiro imperador do Brasil, no entanto, não foi tã

‘Hermanos’ independentes

Maria Lígia Coelho Prado 1/6/2012 • ILUSTRAÇÃO: JOÃO TEÓFILO Quem vive o cotidiano da sala de aula sabe que não é exagero afirmar que os alunos brasileiros do ensino médio, ou mesmo os que chegam à universidade, praticamente desconhecem a História da América Latina. Esse distanciamento entre o Brasil e os demais países latino-americanos se deve em parte ao fato de a tradição cultural brasileira estar profundamente voltada para a Europa. Cultivado desde os tempos coloniais, o fascínio pela “civilização do Velho Mundo” ainda tem forte apelo na sociedade brasileira dos nossos dias. Historicamente, muitos fatores contribuíram para a construção desse fosso. As áreas de colonização portuguesa e espanhola suportaram rivalidades entre suas metrópoles que acabaram por traçar limites não apenas geográficos, mas também culturais, políticos e sociais. Mesmo após as independências, ao longo do século XIX, as diferenças se mantiveram, especialmente pela escolha de regimes políticos – enquanto o B

A origem de uma megalópole : o surgimento de São Paulo permitiu a descoberta das preciosas minas e arrasou com os índios da região.

Amilcar Torrão Filho Quem percorre o estado mais desenvolvido do país de carro passa por rodovias como Anhanguera, Fernão Dias, Raposo Tavares e Anchieta, que lembram os bandeirantes e os catequizadores que se espalharam pelo Brasil adentro. As vias podem até homenagear os colonos “desbravadores”, mas elas foram abertas pelos nativos enquanto desbravavam o sertão. Não é à toa que essas mesmas estradas passam por Itu, Ituverava, Itapetininga, Itapeva, Indaiatuba, Guarulhos, Araçatuba, Jandira, Guaratinguetá, Peruíbe e Ubatuba, cidades que guardam em seus nomes a lembrança de nações indígenas que não vivem mais nessas regiões. Tudo teve início com a fundação, pelo mítico João Ramalho (1493?-1580), da Vila de Santo André da Borda do Campo, a primeira povoação criada pelos portugueses no interior da Colônia, em 1553. No ano seguinte, os jesuítas fundaram um aldeamento nas proximidades – com um colégio que congregava os índios da região para a catequese –, em uma colina de Piratininga. Em

Gilberto Maringoni: São Paulo entre 5 e 9 de julho

As comemorações de 9 de julho em São Paulo exaltam uma rebelião oligárquica de oito décadas atrás. Curiosamente, outra revolta, deflagrada em 5 de julho de 1924, que contou com forte componente popular, passa em brancas nuvens nos calendários oficiais. por Gilberto Maringoni, em Carta Maior Os dias 5 e 9 de julho condensam caminhos pelos quais a história paulista poderia seguir. São dois tabus no estado. Um é esquecido, o outro é exaltado. A primeira data marca uma violenta reação ao poder do atraso, tendo por base setores médios e populares. E a segunda representa a exaltação do atraso, capitaneada pela elite regional. Dia 5 de julho, há 88 anos, uma intrincada teia de tensões históricas desaguou no episódio que ficaria conhecido como Revolução de 1924. Suas raízes estão no agravamento de problemas sociais, no autoritarismo dos governos da República Velha e em descontentamentos nos meios militares, que já haviam gerado o movimento tenentista, dois anos antes. Naquele duro inverno, em

Amo História

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O roubo do chá da China

No século XIX, um distinto botânico escocês chamado Roberto Fortune partiu em uma arriscada missão para desvendar os segredos da bebida. Essa aventura foi o início de um negócio extremamente lucrativo para a Inglaterra, com o plantio intensivo na Índia.Robert Fortune, o botânico que importou plantas e sementes da China por Eric Pincas No número 9 da Gilston Road, em Londres, uma placa azul avisa que ali morreu o botânico Robert Fortune, em 1880. Um ilustre desconhecido até mesmo no país do five o’clock tea, o chá das 5, em que perto de 70% da população bebe diariamente uma xícara do líquido aromático. Poucos conhecem a extraordinária aventura desse homem que, na metade do século XIX, roubou, na cara dos chineses, os segredos de seu chá. Foi o início de um negócio extremamente lucrativo para os britânicos: cerca de 900 bilhões de xícaras são consumidas anualmente no mundo todo. Até hoje nenhum historiador se debruçou sobre a arriscada missão empreendida por Robert Fortune. Cou

Ecos do passado A Idade Média está muito mais presente no nosso dia-a-dia do que imaginamos

Hilário Franco Júnior 2/6/2008 Muitos professores consideram especialmente árdua a tarefa de ensinar História Medieval. A distância que separa os alunos de época tão remota, argumentam alguns, seria um dos principais obstáculos. Como despertar seu interesse por tema tão antigo? Como passar às novas gerações conceitos, ideias e fatos que, aparentemente, têm tão pouco a ver com o mundo de hoje? Mas seria bem diferente se eles mostrassem a seus discípulos que, como veremos a seguir, e embora muita gente não se dê conta, nosso próprio cotidiano está impregnado de hábitos, costumes e objetos que vêm de muito mais longe do que se pode imaginar. Ao tratarmos da História do Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia 22 de abril de 1500, quando Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra “descobriram” nossa terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de si, toda uma história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, comportamentos e sentimentos? Aquil

O domingo sempre foi dia de descanso. FALSO

De acordo com a Bíblia, Deus declarou que descansaria no sétimo dia da semana. Com o advento do cristianismo, o repouso dominical se tornou uma tradição de séculos, certo? Errado! A adoção do domingo como dia de repouso (obrigatório em países como a França) tem um fundamento bíblico. De acordo com o Livro Sagrado, "Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou" (Gênesis 2, 2). A própria etimologia da palavra evidencia esse sentido: “domingo” deriva do latim dies dominicus, ou "dia do Senhor". Os primeiros cristãos tanto respeitavam o descanso que o judaísmo reserva ao sábado quanto celebravam o dia seguinte, tido como data da ressurreição de Cristo. A Igreja, ainda em seus primórdios, já proclamava a obrigação de assistir às missas no sétimo dia, embora não contasse com nenhum respaldo legal. A situação se alterou quando o imperador Constantino, em 321, fixou o “dia do Senhor” como feriado no Império Romano. Na prática, porém, a