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Mostrando postagens de 2016

A República, a morte do Imperador e as mudanças no país

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A 15 de novembro de 1889, soou o golpe republicano que depôs o soberano D. Pedro II. No exílio, ele viveria dois anos penosos e tristes. Tendo rejeitado os 5 mil contos que o governo republicano lhe oferecera, ficou em sérias dificuldades financeiras. Ao chegar a Lisboa, perdeu sua esposa, a imperatriz D. Teresa Cristina a 28 de dezembro de 1889. Ficou profundamente abalado: “Ninguém imagina a minha aflição! Somente choro a felicidade perdida de 46 anos. […] não sei o que farei agora. Só o estudo consolará a minha dor”, anotou, comovido, em seu diário. Muitos monarquistas e pessoas de relações próximas afastaram-se dele, depois da queda. Conta seu biógrafo, José Murilo de Carvalho que, com todos que o visitavam, recusava-se a discutir política brasileira ou restauração da monarquia. Enterrava-se nos livros para evitar o sofrimento. Em outubro de 1891, hospedado no modesto hotel Bedford, em Paris, viu agravar-se seu estado de saúde. Uma pneumonia atacou os pulmões. Os médicos

As duas cartas de Getúlio Vargas

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A história ainda não tem um veredicto sobre as mensagens atribuídas ao presidente, deixadas como testamento político, por ocasião de seu suicídio O adeus: foto publicada em jornais, em agosto de 1954, para anunciar o suicídio/ Enterro em São Borja (RS): comoção popular varreu o país Antes de se suicidar com um tiro no peito, Getúlio Vargas (1882-1954) escreveu uma carta-testamento ainda hoje polêmica, pois existem dela duas versões: uma manuscrita, bastante concisa, e outra mais longa, datilografada, que foi distribuída para a imprensa como a mensagem oficial do político ao povo brasileiro. Em ambas, porém, Getúlio informa que deu cabo à própria vida em virtude de pressões de grupos internacionais e nacionais contrários ao trabalhismo – ou seja, criou sua versão das “forças ocultas” que algumas vezes leva a rupturas no poder. Os dois documentos são ainda um libelo pró-nacionalismo e recendem personalismo, uma das marcas registradas do político. Getúlio se colocou, até na hora da

Homens das cavernas comiam uns aos outros e usavam crânios como tigelas

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Caverna de Gough, localizada no desfiladeiro da Garganta de Cheddar, na Inglaterra A caverna de Gough, no Reino Unido, guarda um grande mistério dos primórdios da humanidade. Não são os restos humanos encontrados nela, coisa que os arqueólogos estão cansados de achar. O que intriga também não é a disposição pouco natural das ossadas, como se elas tivessem sido mexidas: isso é típico de rituais de enterro, o que distingue os seres humanos. O mistério está nas marcas de mordidas e nos sinais de que os ossos foram partidos, espremidos e chupados. Gough possui 3,4 km de extensão e está localizada no desfiladeiro da Garganta de Cheddar, em Somerset, na Inglaterra. Em 1903, os restos de um homem foram descobertos a 115 metros de profundidade. Batizado de Homem de Cheddar, ele possui datação de cerca de 7.150 a.C. – sendo o mais antigo esqueleto humano completo do Reino Unido. Além de valioso por isso, ele foi o primeiro encontrado no local com marcas de canibalismo. Ainda não foi compro

Samhain - A Morte do Deus

31 de outubro no hemisfério Norte & 1º de maio no hemisfério Sul Samhain (pronuncia-se Sou-ein), festejado em 31 de outubro no hemisfério Norte e em 1º de maio no hemisfério Sul, é o Ano-Novo dos Bruxos. Esse dia sagrado é conhecido por inúmeros nomes. Para muitos, talvez, o mais conhecido seja Halloween. Essa é a noite em que o véu que separa o mundo material do mundo espiritual encontra-se mais fino e o contato com nossos ancestrais torna-se mais fácil. É também o momento tradicional para celebrar a última das colheitas e se preparar para o Verão. O poder de magia pode ser sentido no ar, nessa noite. O Outro Mundo se coaduna com o nosso conforme a luz do Sol baixa e o crepúsculo chega. Os espíritos daqueles que já partiram para o outro plano são mais acessíveis durante a noite de Samhain. Samhain ocorre no pico do Outono. É o tempo do ano em que o frio cresce e a morte vaga pela Terra. O Sol está enfraquecendo cada vez mais rapidamente, a sombra cresce e as folhas das árvo

9 expressões populares com origens ligadas à escravidão

Certas expressões populares se tornam de tal forma parte de nosso vocabulário e repertório que é como se sempre tivessem existido. Dor de cotovelo, chorar as pitangas, dar com os burros n’água, engolir um sapo ou salvo pelo gongo, tudo é dito como se fosse a coisa mais natural e normal do mundo. Mas se mesmo as palavras mais corriqueiras possuem uma história e sua própria árvore etimológica, naturalmente que toda e qualquer expressão popular, das mais sábias e profundas às mais bestas e sem sentido, possuem uma origem, ora curiosa e interessante, ora sombria e simbólica de um passado sinistro. Pois muitas das expressões que usamos no dia a dia, e que hoje comunicam somente seu sentido funcional – aquilo que atualmente a frase “quer dizer” – são originarias de um vergonhoso e longo período da história do Brasil: a escravidão. Ainda que os sentidos originais tenham se diluído em algo trivial, essa origem permanece, como em toda palavra ou frase comum, feito um DNA marcando nossa própri

Martinho Lutero, o monge que revolucionou o mundo

Com a publicação de suas 95 teses em 31 de outubro de 1517, religioso desencadeou a Reforma Protestante. Em busca de um Deus misericordioso, Lutero estudou a Bíblia e estabeleceu uma nova visão teológica. Martinho Lutero queria apenas discutir os problemas na Igreja Católica, mas o que aconteceu na cidade alemã de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 mudaria para sempre a Alemanha, a Europa e o mundo cristão. Para entender a agitação que Lutero desencadeou com suas 95 teses, é preciso voltar à época em que ele viveu. No final da Idade Média e início da Idade Moderna, a fé cristã era dominada pelo monopólio da Igreja Católica. O dogma e as regras da Igreja ditavam a vida das pessoas, e Deus era visto como uma figura julgadora e rigorosa, que nunca deixava um erro impune. Acontecimentos que não conseguiam ser explicados – como tragédias pessoais, colheitas ruins ou mesmo guerras e crises – eram vistos como consequências de pactos com o diabo. Aqueles que supostamente teriam feito tais aco

1862 - Lincoln sanciona Homestead Act, lei da "reforma agrária" dos EUA

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Modelo baseado na pequena propriedade, aliado à mão de obra familiar, resolveu a questão agrária norte-americana Como um marco na história da ocupação do oeste norte-americano por colonos de todas as partes do país e do mundo, o presidente Abraham Lincoln sanciona em 20 de maio de 1862 o Homestead Act (Lei da Fazenda Rural). Trata-se de um programa destinado a conceder terras públicas a pequenos fazendeiros a baixo custo. A lei concedia 160 acres – 650 mil metros quadrados – a todo solicitante, desde que fosse chefe de família e tivesse 21 anos ou mais, e garantisse permanecer e trabalhar a terra por no mínimo cinco anos, pagando uma pequena taxa de administração. WikiCommons - concessão de território Se os colonos quisessem obter antes o título de propriedade, só poderiam fazê-lo transcorridos seis meses e pagando 1,25 dólar por acre (aproximadamente 4.000 metros quadrados). Dessa forma, um modelo baseado na pequena propriedade, no plantio de diversos tipos de alimentos e criaç

As greves escravas, entre silêncios e esquecimentos

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No Brasil do século XIX, antes dos imigrantes, negros e trabalhadores livres já faziam “paredes”, paralisações por melhores condições de vida e trabalho Por Antonio Luigi Negro e Flávio dos Santos Gomes Dia ensolarado. O italiano Pascoal se aproxima do brasileiro Justino. Apelidado de “missionário”, o italiano usava um desses chapeletes de militante socialista. Com uma pá na mão, o operário — um negro — fez uma pausa no batente para olhar Pascoal nos olhos, ouvindo-o atento. Gesticulando com as mãos, compensando o sotaque carregado, o italiano viera atear fogo: criticou salários, incitou todos a largarem o serviço e a fazer a revolução. “Você, seu Pascoal” — argumentou Justino (também com seu sotaque próprio) — “está perdendo seu tempo. Eu não compreendo a língua estrangeira”. Tal como na charge de J. Carlos (publicada na revista Careta em 1917), imprensa, novelas e textos didáticos divulgaram para o grande público essa — fictícia — figura do italiano anarquista. Celebravam o mito

A língua portuguesa que falamos é culturalmente negra"

“A proximidade entre o português arcaico e as línguas do grupo banto resultou no português que falamos hoje” (Marcello Scarrone) Nossa língua africana Em Angola, ela é Yeda “Mun-tu” Castro. Na Nigéria, é Yeda Pessoa “Olobumim” Castro. Vem de longe a relação da etnolinguista e professora da Universidade do Estado da Bahia com a cultura africana. Ainda criança, em Feira de Santana, Yeda viu-se com o desejo de decifrar a incompreensível língua falada pelos negros. Desejo que a levou a desbravar um caminho em tudo pioneiro: mestrado na Nigéria, doutorado no Zaire e a descoberta de uma herança linguística fundamental para o português falado no Brasil. Se nos orgulhamos de falar “cantano”, devemos agradecer ao gosto das línguas banto pelas vogais. Vem da mesma fonte africana o costume de abolir os plurais, como em “as criança” e “os menino”. A conversa de Yeda Pessoa de Castro com a RHBN foi cheia de exemplos saborosos assim. Além de suas muitas descobertas acadêmicas a respeito da p

Por que estudar História?

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Para responder esta pergunta, a primeira frase que me ocorre é a resposta clássica dada pelo grande Marc Bloch a seu neto, quando o menino lhe perguntou para que servia a História e ele disse que, pelo menos, servia para divertir. Após 35 anos de vida profissional efetiva, como pesquisadora durante seis anos e, desde então – 29 anos – também como docente na Universidade de São Paulo, considero que a diversão é essencial, entendida no sentido de prazer pessoal: a melhor coisa do mundo é fazer algo que gostamos de fato, e eu sempre adorei História, sempre foi minha matéria preferida na escola, junto com as línguas em geral, sobretudo italiano e português, e sempre mais a literatura que a gramática. Mas a História é, tenho certeza disso, uma forma de conhecimento essencial para o entendimento de tudo quanto diz respeito ao que somos, aos homens. Os humanistas do renascimento diziam que tudo o que era humano lhes interessava. A História é a essência de um conhecimento secularizado, toda

Arte, política e prostituição

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Em tempos de avanço do conservadorismo no Brasil e no mundo, exposições temporárias do Museu d’Orsay evidenciam o potencial político da arte. Está aberta ao público no Museu d’Orsay, em Paris, de 22 de setembro de 2015 a 15 de janeiro de 2016, mais uma exposição que está dando o que falar: “Esplendor e Miséria – imagens da prostituição, 1850-1910”.Divulgação Divulgação O Museu d’Orsay é uma das instituições mais tradicionais da dita “alta cultura francesa”, reunindo a mais importante coleção de pinturas impressionistas do mundo, além de obras ganhadoras das medalhas de ouro dos Salões do século XIX. Para a arte francesa, o d’Orsay faz parte de uma tríade linear histórica: Museu do Louvre, Museu d’Orsay e Centro Pompidou. Sua coleção permanente sempre atraiu o público aos milhares, como comprovam as longas filas de bilheteria, mas são as últimas exposições temporárias que têm causado maior rebuliço na mídia francesa. Entre o final de 2013 e o início de 2014, a exposição “Masculin-Mas