RESOLUÇÃO

Os dias da Comuna (*) Bertold Brecht 1. Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram Suas leis para nos escravizarem. As leis não mais serão respeitadas Considerando que não queremos mais ser escravos. Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e com canhões Nós decidimos: de agora em diante Temeremos mais a miséria do que a morte. 2. Consideramos que ficaremos famintos Se suportarmos que continuem nos roubando Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças Que nos separam deste bom pão que nos falta. Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e canhões Nós decidimos, de agora em diante Temeremos mais a miséria que a morte. 3. Considerando que existem grandes mansões Enquanto os senhores nos deixam sem teto Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar. Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e canhões Nós decidimos, de agora em diante Temeremos mais a miséria do que a morte. 4. Considerando que está sobrando carvão Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão Nós decidimos que vamos toma-lo Considerando que ele nos aquecerá Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e canhões Nós decidimos, de agora em diante Temeremos mais a miséria do que a morte. 5. Considerando que para os senhores não é possível Nos pagarem um salário justo Tomaremos nós mesmos as fábricas Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós. Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e canhões Nós decidimos: de agora em diante Temeremos mais a miséria que a morte. 6. Considerando que o que o governo nos promete Está muito longe de nos inspirar confiança Nós decidimos tomar o poder Para podermos levar uma vida melhor. Considerando: vocês escutam os canhões Outra linguagem não conseguem compreender Deveremos então, sim, isso valerá a pena Apontar os canhões contra os senhores! (*) Com o título “Resolução”, este poema encerra a seção 3 da peça Os dias da Comuna que Brecht escreveu em 1948-1949, traduzida para o português por Fernando Peixoto. O poeta e dramaturgo comunista Bertolt Brecht (10 de fevereiro de 1898 – 14 de agosto de 1956) renovou o teatro e a poesia exprimindo sentimentos revolucionários sob uma forma igualmente revolucionária, adequada a seu tempo e às suas contradições. Militante comunista, foi combatente antinazista da linha de frente, engajando sua arte na luta pela democracia, pelo socialismo, contra o fascismo e o nazismo. Ligou a crítica ao nazismo ao combate contra a repressão característica do tempo de reação burguesa, da qual o bestial massacre da Comuna de Paris foi um marco. A arte, propunha ele, precisa estar a serviço da luta operária, do progresso social e dos mais altos sentimentos de humanidade e solidariedade. É um instrumento, nesse sentido, de combate à alienação e ferramenta para despertar e consolidar a consciência de classe. Os dias da Comuna é um dos melhores exemplos da clareza e determinação que ilumina os escritos de Brecht. (http://www.vermelho.org.br/noticia/149803-1. Último acesso em 25/11/2017)

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