Contrabando de queijo

Contrabando de queijo
Produto artesanal corre o risco de desaparecer por não poder ser comercializado fora de Minas Gerais

6/7/2011
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Envie essa matéria para um amigo Quando alguém disser que para comer queijo minas artesanal é preciso ir até Minas Gerais, acredite. Não é capricho de gourmet. Embora o modo de produção seja tombado pelo Iphan, a legislação federal impede que o queijo com menos de 60 dias de maturação saia do estado, para evitar a transmissão de tuberculose e brucelose, doenças causadas por bactérias. O problema é que, se a maturação for tão longa, o queijo fica muito duro e acaba sendo rejeitado por boa parte dos consumidores. A solução para quem não mora em Minas é comprar o produto em lojas de estados vizinhos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Mas talvez os donos desses estabelecimentos nem imaginem que estão vendendo queijo contrabandeado. O documentário “O mineiro e o queijo”, de Helvécio Ratton, que tem estreia prevista para agosto, promete ajudar a divulgar essa história para o resto do país.

O filme foi rodado nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Alto Parnaíba, onde o queijo ainda é produzido na maneira tradicional. “O queijo está à beira de acabar. Há uma superoferta dentro do estado e os jovens não querem manter a tradição, porque não dá dinheiro”, diz Ratton. “O mineiro e o queijo” vai entrar na polêmica da legislação, mas também contar o passado do alimento.

Os primeiros indícios desse tipo de produção artesanal, feita com leite cru, são do final do século XVIII. Inventários e listas de compras indicam também que nessa época o queijo minas era caro e consumido pela elite. “Assim como os doces eram uma forma de conservar frutas, o queijo era feito para conservar o leite. A origem desse modo de produção deve ser o centro-norte de Portugal, de onde veio a maioria dos imigrantes de Minas Gerais”, diz José Newton Coelho Meneses, historiador e professor da Escola de Veterinária da UFMG.

Segundo Meneses, por ser produzido com leite cru, a flora microbiana do queijo continua se reproduzindo, mas o risco de o consumidor contrair doenças só existe se o rebanho não for devidamente controlado. “O controle da tuberculose e da brucelose hoje já é muito eficaz. Países como França e Suíça produzem queijos parecidos, e nós pagamos caro para importá-los em vez de valorizar o que temos aqui”, ele se queixa.

Hoje o queijo minas já é produzido por mais de 30 mil famílias e movimenta a economia do estado. É difícil encontrar uma casa de mineiros que não tenha um pequeno estoque do produto. “Tem que ter uma arcada dentária muito boa para comer o queijo com 60 dias de maturação. Ou, então, o jeito é ralar... Nós fizemos uma rodada de negociações com o Ministério da Agricultura, mas não adiantou. Isso afeta só o estado de Minas Gerais, então estamos nessa sozinhos”, diz Marco Antônio Vale, gerente de certificação do Instituto Mineiro de Agropecuária.

O Ministério da Agricultura não demonstra a intenção de fazer modificações na lei e afirma que o mesmo padrão é adotado pelo Mercosul. Enquanto isso, os poucos mineiros que estão por dentro da situação vão se mobilizando, nem que seja em forma de filme.

(http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/contrabando-de-queijo ,último acesso em 29/07/2011)

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