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Mostrando postagens de agosto, 2012

Injustiça para quem?

Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, nova lei de cotas evidencia a debilidade do ensino público básico no Brasil, mas representa um grande passo para a luta contra o preconceito racial no país Alice Melo (24/8/2012) Aprovada pelo Senado no início deste mês e sancionada pela presidente Dilma Rousseff na tarde de quarta (19), nova lei de cotas (PLC 180/2008) passa a valer a partir de 2013. A medida que obriga todas as universidades e institutos tecnológicos federais a destinarem 50% de suas vagas a estudantes de escolas públicas e, dentro disso, 25% a candidatos pretos, pardos e índios; evidencia a debilidade do ensino básico no Brasil, mas representa um grande passo para a luta contra o preconceito racial no país. O texto começou a tramitar no Congresso no final dos anos 1990 e surgiu com intuito de reformular o sistema de ingresso universal, o vestibular. Mas o projeto foi sendo modificado com o tempo: na alvorada dos anos 2000, quando o Estado começou a implementar po

Uma leve bagagem cultural

D. Pedro I não era exatamente brilhante, mas estava longe do estereótipo de ignorante, degenerado e doente que lhe coube D. Pedro compartilhava com outros membros da casa de Bragança o amor pela música. 'Os primeiros sons do Hino da Independência', óleo de Augusto Bracet, documenta essa paixão Eneida e música. A paixão pelo clássico de Virgílio e a verdadeira adoração pela composição e pelo som dos instrumentos são os itens mais vistosos de um imaginário perfil cultural de D. Pedro I. Mas o imperador, diga-se de passagem, nunca foi lembrado pela educação esmerada e, muito menos, por qualquer relação com as artes. Ao contrário: a memória coletiva acentua a profusão de amantes [Ver RHBN nº 64], a ignorância e os ataques epiléticos. Mas não é bem assim. O único traço de afinidade com o mundo artístico que começa a ser conhecido é o que ele compartilha com outros membros da casa de Bragança: o amor pela música. A educação do primeiro imperador do Brasil, no entanto, não foi tã

‘Hermanos’ independentes

Maria Lígia Coelho Prado 1/6/2012 • ILUSTRAÇÃO: JOÃO TEÓFILO Quem vive o cotidiano da sala de aula sabe que não é exagero afirmar que os alunos brasileiros do ensino médio, ou mesmo os que chegam à universidade, praticamente desconhecem a História da América Latina. Esse distanciamento entre o Brasil e os demais países latino-americanos se deve em parte ao fato de a tradição cultural brasileira estar profundamente voltada para a Europa. Cultivado desde os tempos coloniais, o fascínio pela “civilização do Velho Mundo” ainda tem forte apelo na sociedade brasileira dos nossos dias. Historicamente, muitos fatores contribuíram para a construção desse fosso. As áreas de colonização portuguesa e espanhola suportaram rivalidades entre suas metrópoles que acabaram por traçar limites não apenas geográficos, mas também culturais, políticos e sociais. Mesmo após as independências, ao longo do século XIX, as diferenças se mantiveram, especialmente pela escolha de regimes políticos – enquanto o B

A origem de uma megalópole : o surgimento de São Paulo permitiu a descoberta das preciosas minas e arrasou com os índios da região.

Amilcar Torrão Filho Quem percorre o estado mais desenvolvido do país de carro passa por rodovias como Anhanguera, Fernão Dias, Raposo Tavares e Anchieta, que lembram os bandeirantes e os catequizadores que se espalharam pelo Brasil adentro. As vias podem até homenagear os colonos “desbravadores”, mas elas foram abertas pelos nativos enquanto desbravavam o sertão. Não é à toa que essas mesmas estradas passam por Itu, Ituverava, Itapetininga, Itapeva, Indaiatuba, Guarulhos, Araçatuba, Jandira, Guaratinguetá, Peruíbe e Ubatuba, cidades que guardam em seus nomes a lembrança de nações indígenas que não vivem mais nessas regiões. Tudo teve início com a fundação, pelo mítico João Ramalho (1493?-1580), da Vila de Santo André da Borda do Campo, a primeira povoação criada pelos portugueses no interior da Colônia, em 1553. No ano seguinte, os jesuítas fundaram um aldeamento nas proximidades – com um colégio que congregava os índios da região para a catequese –, em uma colina de Piratininga. Em